A siderurgia brasileira está perdendo competitividade sistêmica, de
acordo com dados divulgados ontem(28) pelo Instituto Aço Brasil (IABr),
no Rio de Janeiro. A indústria da transformação como um todo vem
perdendo participação no Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de
todos os bens e serviços produzidos no país. A participação caiu de
35,9%, na década de 1980, para 13% no ano passado. Para ratificar esse
cenário, o saldo da indústria da transformação na balança comercial caiu
de um superávit de US$ 120 bilhões, entre 2002 e 2007, para um déficit
de US$ 130 bilhões, entre 2008 e 2013. Com isso, o total da perda da
indústria da transformação alcança US$ 250 bilhões, equivalentes a R$
557 bilhões.
No setor siderúrgico, a perda de competitividade
dificulta as exportações e amplia as importações. Em 2013, o total
importado pelo setor do aço brasileiro atingiu quase 9,3 milhões de
toneladas, revelando dificuldades decorrentes do elevado custo do
dinheiro, da energia elétrica e do gás natural, além da infraestrutura
deficitária e da desigualdade cambial, disse o presidente executivo do
IABr, Marco Polo de Mello Lopes.
No primeiro trimestre deste ano,
as importações de produtos siderúrgicos somaram 877 mil toneladas, com
alta de 3,9% em comparação ao mesmo período de 2013. Enquanto as compras
do exterior subiam, as exportações brasileiras de aço, de janeiro a
março deste ano - em torno de 2 milhões de toneladas - caíram 19,1% em
volume. Em dinheiro, as vendas renderam US$ 1,5 bilhão, com retração de
6,9% em relação a igual trimestre do ano passado. “Foi um desempenho
morno”, classificou Lopes.
A produção brasileira de aço alcançou
8,3 milhões de toneladas no trimestre, mostrando elevação de 1,5% sobre o
mesmo período de 2013. Segundo Lopes, o Brasil está trabalhando com 73%
da capacidade instalada, “quando deveria estar acima de 80%”. Mas
avaliou que falta competitividade para reduzir as importações e elevar a
capacidade de produção.
A previsão de crescimento de 5,2% da
produção para o setor, em 2014, feita no início do ano, tendo por base
uma expansão de 2,2% do PIB, terá de ser revista, devido à redução da
perspectiva de crescimento do PIB para algo entre 1,5% e 1,7%, disse o
presidente do IABr. Acrescentou, contudo, que deverão ser feitos ajustes
para baixo, tendo em vista que este é um ano de eleições, haverá a Copa
do Mundo e há um quadro geral de insegurança.
“Eu diria que é um
cenário difícil, aonde nós precisaríamos estar tomando decisões que
não estão sendo tomadas”. Na sua avaliação, o remédio, no momento, seria
uma proteção emergencial por um prazo determinado, para que a indústria
possa respirar, retornando, ao fim do período estipulado, para a
correção das assimetrias existentes.
Visando ampliar a
competitividade do aço nacional, o IABr montou a Coalizão
Pró-Competitividade junto com 20 instituições representativas de vários
segmentos econômicos, cuja coordenação, no primeiro momento, está a
cargo da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Os
integrantes da coalizão já tiveram reuniões com os ministros da Fazenda,
Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
Mauro Borges, e têm como próximo passo um encontro com a presidenta
Dilma Rousseff, “em um horizonte curto”, acentuou Lopes.
“A
coalizão entende que a solução é ir à Presidência da República para
discutir soluções emergenciais”, destacou. Esclareceu que, se for
mantido o ritmo dos últimos cinco anos, as importações de produtos
siderúrgicos representarão 58% no consumo final, no Brasil, em 2022, o
que “inviabilizaria a indústria nacional”.
Ele explicou que os
países que responderam por 88% da produção mundial do aço, em 2012,
aplicam medidas de defesa comercial. “Todo mundo quer acessar mercados e
defender seus interesses. O Brasil não pode ser ingênuo e estar com a
casa aberta para a entrada desses materiais”, assegurou Lopes. De acordo
com os números apresentados, a participação das importações chinesas
aumentou 36,4 pontos percentuais, em 13 anos. Já a produção anual de aço
do Brasil equivale a 18 dias de produção na China.
Mello Lopes
defende que toda a indústria da transformação seja protegida da
concorrência predatória. Ele disse que os Estados Unidos fecharam por
anos o seu mercado interno, com salvaguardas e outros mecanismos de
proteção, para que sua indústria pudesse ser recomposta. “Da mesma
maneira, se não quisermos perder a indústria da transformação, acho que,
neste momento, a prioridade absoluta é a proteção”. Já o crescimento
sustentável está dentro de um contexto mais amplo, que conjuga
investimento privado e público, mais poupança, salientou.
O
presidente do IABr enfatizou que "a indústria de máquinas e
equipamentos, por exemplo, está desaparecendo neste país, e precisa de
um apoio emergencial”. O setor constitui um dos principais
consumidores de produtos siderúrgicos no Brasil, com participação de
19,7%, depois dos setores da construção civil (37,7%) e do setor
automotivo (22,1%).