Ex-presos políticos da época da ditadura militar visitaram as celas em que
ficaram detidos no prédio do Dops, no Centro do Rio, nesta segunda-feira (24).
A visita foi feita durante diligência da Comissão da Verdade do Rio de
Janeiro (CEV-RJ) no local. A comissão pretende transformar o edifício em um
centro de memória em homenagem aos presos da época.
Segundo o presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous,
o local ainda abriga documentos da época da ditadura militar em condições
insalubres.
"Vimos há pouco alguns [documentos] aleatoriamente que falavam de
operações policiais da década de 70. Fomos informados que o Arquivo Público
Estadual esteve aqui e retirou documentos com importância histórica. Vamos
pedir providências ao Arquivo Público Estadual porque estes documentos não
podem desaparecer e permanecer no estado de insalubridade que estão aqui",
disse Wadih.
O presidente da CEV-RJ afirmou ainda que o ex-governador Sérgio Cabral
prometeu ceder o prédio - que pertence à Polícia Civil - para a construção do
memorial. No entanto, a polícia desejava transformar o local em um museu da
instituição. "Vamos agendar uma reunião com o governador Pezão [governador
do Rio, Luiz Fernando Pezão] e cobrar dele a promessa feita pelo então
governador", disse Wadih.
A ideia da Comissão da Verdade é que o espaço também seja usado para abrigar
um conselho de defesa aos direitos humanos. As salas reconhecidas pelos ex-presos
serão aproveitadas no memorial.
Fátima Oliveira Setúbal, de 61 anos, foi presa no Dops aos 18. Ela foi
torturada e interrogada sobre o paradeiro de dois irmãos, que eram procurados
pelos militares na época. Fátima lembra que ficou alojada na prisão de mulheres
do prédio, que ficava no primeiro andar.
"No interrogatório que eu tive, a tortura foi psicológica. Em 1972 eu
fui torturada no DOI-Codi. Me marcou muito porque fiquei dois dias sem dormir e
beber água para escrever meu depoimento. Eram três que ficavam mandando eu
escrever e falando que não estava bom. Eles queriam que eu contasse o paradeiro
dos meus dois irmãos, que depois foram mortos", disse ela.
A visita foi marcada por tensão entre representantes da Polícia Civil e membros
da Comissão da Verdade. A policia diz que não teria problema de ceder espaço
para o centro de memória, proposto pela CEV. Mas não abre mão da administração
do prédio.
"Esse prédio pertence à Polícia Civil. Estamos em um processo
espontâneo nosso. O que pertenceu ao Dops, que seja preservado. Mas pedimos
compreensão, porque as pessoas que estão na Polícia Civil não são as mesmas
daquela época. As salas onde aconteceram serão preservadas e reformadas como
foram. Não queremos apagar isso", disse o delegado Gilbert Stivanello.
Fonte Globo.com
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