terça-feira, 25 de novembro de 2014

Comissão da Verdade pressiona por transformação do Dops em memorial

Ex-presos políticos da época da ditadura militar visitaram as celas em que ficaram detidos no prédio do Dops, no Centro do Rio, nesta segunda-feira (24). A visita foi feita durante diligência da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-RJ) no local. A comissão pretende transformar o edifício em um centro de memória em homenagem aos presos da época.
Segundo o presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous, o local ainda abriga documentos da época da ditadura militar em condições insalubres.
"Vimos há pouco alguns [documentos] aleatoriamente que falavam de operações policiais da década de 70. Fomos informados que o Arquivo Público Estadual esteve aqui e retirou documentos com importância histórica. Vamos pedir providências ao Arquivo Público Estadual porque estes documentos não podem desaparecer e permanecer no estado de insalubridade que estão aqui", disse Wadih.
O presidente da CEV-RJ afirmou ainda que o ex-governador Sérgio Cabral prometeu ceder o prédio - que pertence à Polícia Civil - para a construção do memorial. No entanto, a polícia desejava transformar o local em um museu da instituição. "Vamos agendar uma reunião com o governador Pezão [governador do Rio, Luiz Fernando Pezão] e cobrar dele a promessa feita pelo então governador", disse Wadih.
A ideia da Comissão da Verdade é que o espaço também seja usado para abrigar um conselho de defesa aos direitos humanos. As salas reconhecidas pelos ex-presos serão aproveitadas no memorial.
Fátima Oliveira Setúbal, de 61 anos, foi presa no Dops aos 18. Ela foi torturada e interrogada sobre o paradeiro de dois irmãos, que eram procurados pelos militares na época. Fátima lembra que ficou alojada na prisão de mulheres do prédio, que ficava no primeiro andar.
"No interrogatório que eu tive, a tortura foi psicológica. Em 1972 eu fui torturada no DOI-Codi. Me marcou muito porque fiquei dois dias sem dormir e beber água para escrever meu depoimento. Eram três que ficavam mandando eu escrever e falando que não estava bom. Eles queriam que eu contasse o paradeiro dos meus dois irmãos, que depois foram mortos", disse ela.
A visita foi marcada por tensão entre representantes da Polícia Civil e membros da Comissão da Verdade. A policia diz que não teria problema de ceder espaço para o centro de memória, proposto pela CEV. Mas não abre mão da administração do prédio.
"Esse prédio pertence à Polícia Civil. Estamos em um processo espontâneo nosso. O que pertenceu ao Dops, que seja preservado. Mas pedimos compreensão, porque as pessoas que estão na Polícia Civil não são as mesmas daquela época. As salas onde aconteceram serão preservadas e reformadas como foram. Não queremos apagar isso", disse o delegado Gilbert Stivanello.


Fonte Globo.com

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