O Clube Militar publicou na ediçao do jornal O Globo desta quinta-feira
(11), um
anúncio em que presta homenagem póstuma a 126 militares e civis mortos nas
décadas de 1960 e 1970 “pelo irracionalismo do terror”. A homenagem
acontece no dia seguinte à divulgação do relatório final da Comissão nacional
da Verdade, entregue na quarta-feira (10) à presidente Dilma Rousseff. A
presidente se emocionou ao receber o relatório e chegou a chorar ao fazer
referência aos brasileiros que perderam parentes e amigos no combate à
ditadura.
“In memoriam, Os Clubes Naval, Militar e de Aeronáutica prestam homenagem
póstuma aos 126 brasileiros que perderam suas vidas pelo irracionalismo do
terror, nas décadas de 1960 e 1970. Suas histórias, absurdamente, foram
desprezadas pela Comissão Nacional da Verdade, um desrespeito às suas histórias
e aos seus familiares. Roga-se uma prece por suas almas”, diz a íntegra da nota
publicada hoje.
Wadih Damous, presidente da Comissão da Verdade no Rio de Janeiro, considerou a
nota do Clube Militar despropositada e disse que o anúncio tenta confundir a
sociedade em relação aos papéis desempenhados por cada um à época da ditadura.
Ele disse que não há notícia de que militares mortos na época da ditadura
tenham sito torturados, estuprados e esquartejados.
“Se houve mortes, foi em confronto com militantes”, afirmou.
O anúncio foi publicado no dia seguinte à divulgação de um editorial pelo
site do Clube Militar, assinado pelo presidente do clube, general
Gilberto Rodrigues Pimentel, na qual ele afirma que o relatório da Comissão
Nacional da Verdade é um "absurdo". "O ódio e o desejo de
vingança são tão grandes que um absurdo desses é assinado por advogados,
juristas e professores universitários. Tudo em nome da causa socialista",
diz um trecho.
Ainda segundo o editoral, o relatório é uma "peça requentada, porque só
confirma bandeiras preexistentes na esquerda brasileira".
“Nosso objetivo com essa publicação é deixar clara a nossa posição em
relação a Comissão da Verdade, que só aborda só um lado, daquelas que foram
vítimas do estado. A Comissão está querendo fazer uma apuração da história
assim. Nossa intenção é minimizar essa injustiça. Não somos a favor da
ditadura, mas todos os lados têm que ser apurados”, explicou o coronel Ivan
Cosme, diretor de Comunicação Social do Clube Militar.
Wadih Damous considerou o editorial uma provocação, porque, segundo ele, o
relatório final da Comissão Nacional da Verdade citou "300 e poucos
agentes que participaram de torturas" e, para chegar a esses nomes, a
comissão agiu em obediência à lei.
"A comissão tinha que chegar à autoria dessas torturas e os autores
foram apontados pelas próprias vítimas, e muitos dos acusados confessaram, como
foi o caso de Paulo Malhães. Por isso não há calúnias nem mentiras no
relatório", disse.
Relatório final
O relatório final da Comissão Nacional da Verdade aponta 377 pessoas como
responsáveis diretas ou indiretas pela prática de tortura e assassinatos
durante a ditadura militar, entre 1964 e 1985 (veja
lista com os nomes dos 377).
Com 4.328 páginas, o documento consolida o trabalho da comissão, após dois
anos e sete meses de audiências públicas, depoimentos de militares e civis e
coleta de documentos referentes ao regime militar (consulte
a íntegra).
Segundo o documento, a identificação da autoria dos crimes foi feita com
base em documentos, depoimentos de vítimas e testemunhas, inclusive de agentes
públicos que teriam participado da repressão. A CNV afirma no relatório que,
devido à falta de documentos, relatos ou testemunhas, há nomes
"conhecidos" não incluídos na lista porque não foi possível comprovar
a participação deles em violações de direitos humanos.
De acordo com o Ministério Público Federal, a Deliberação
1.218, de 9 de novembro de 1973, que deu à ponte o nome de Presidente Médici,
ofende o princípio da impessoalidade e o direito à memória. A recomendação do
MPF pede a retirada do nome do ex-presidente de qualquer placa indicativa da
ponte e que o novo nome seja escolhido, em 90 dias, por meio de discussão
pública, com participação da sociedade civil, obedecendo normas constitucionais
e legais.
Fonte Globo.com
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