Em curva descendente dia após dia, o volume médio de água nos quatro
principais reservatórios do Rio Paraíba do Sul, que abastece cerca de 15
milhões de pessoas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro,
chegou nesta terça-feira ao patamar de 3%, o menor percentual histórico em 36
anos. Há um mês, era de 6%, o que significa que caiu pela metade. Se no próximo
verão as chuvas teimarem em não aparecer, a Região Metropolitana do Rio deverá
necessariamente lançar mão de um plano de contingência, alertam especialistas.
Entre essas medidas, estão o uso do volume morto do reservatório de Paraibuna —
que fica no Vale do Paraíba paulista —, a captação para abastecimento do
reservatório de Ribeirão das Lajes, em Piraí, além de políticas de
racionamento. Nesta terça-feira, gestores se reuniram no Instituto Estadual do
Ambiente (Inea) para discutir alternativas à crise, uma semana depois do
anúncio do acordo para transposição que beneficia São Paulo. O encontro contou
com representantes do governo do estado, da Agência Nacional de Águas (ANA),
dos comitês de bacia e distribuidores de energia.
—
Acredito ser inevitável que, em 2015, medidas mais pesadas precisem ser tomadas
para conter a crise. A solução será negociada entre os estados. (O reservatório
de) Paraibuna está com apenas 1% de seu volume útil. E vem caindo, em média,
0,1% por dia. Se nos próximos dez dias não chover, a captação deverá ser feita
no volume morto, o que jamais aconteceu — alerta o diretor-executivo da Agência
da Bacia do Rio Paraíba do Sul (Agevap), André Luis Marques.
CEDAE
VOLTA A DESCARTAR RACIONAMENTO
O volume
morto é a parcela dos reservatórios concentrada abaixo da tomada d’água de
hidrelétricas. Até hoje, essa porção sempre foi preservada, em toda a Bacia do
Paraíba do Sul. Especialistas afirmam que a utilização dos volumes mortos para
o abastecimento vai exigir testes de qualidade de água, uma vez que concentram
mais poluentes e sedimentos. A ANA informou, por meio de sua assessoria, que
não serão necessárias obras para a captação dos volumes mortos do Paraíba do
Sul.
— Risco
para a saúde sempre tem, pois são águas que concentram sedimentos — acrescenta
o consultor em recursos hídricos Jander Duarte, que critica a falta de ações
concretas dos governos. — Só se anunciam medidas paliativas, que não resolvem o
problema. Quais os projetos para os próximos anos? Quais os investimentos?
Além do volume morto de Paraibuna, outra alternativa para driblar a seca
no Rio seria a utilização das reservas de Ribeirão das Lajes, em Piraí,
reservatório operado pela Light. Com águas consideradas “de ótima qualidade”
por especialistas, Lajes é tido como um reservatório estratégico, um escape que
só deveria ser acionado em caso de extrema emergência. O reservatório dispunha
de nível confortável nesta terça-feira: 71,9% de volume útil, pois é abastecido
pelo Rio Piraí, um sistema paralelo.
O
presidente da Cedae, Wagner Victer, voltou a negar nesta terça-feira a
possibilidade de desabastecimento e racionamento de água na Região
Metropolitana do Rio, que concentra 8,4 milhões de moradores e é abastecida
pelo Paraíba.
— A
posição oficial da empresa é a mesma: não há qualquer previsão de
desabastecimento ou racionamento por clientes da Cedae na Região Metropolitana.
Questionado
sobre as possibilidade de utilização de água da represa de Lajes, Victer foi
lacônico:
— Esta
gestão é feita pela ANA, que define todos os procedimentos.
Segundo a
ANA, por enquanto o sistema Guandu continua recebendo mais de 110 metros
cúbicos de água por segundo, o que garante o abastecimento.
Gestores
acreditam que pancadas de chuva previstas para os próximos meses ajudarão os
reservatórios. Mas há quase um consenso de que 2015 será um ano ainda mais
complicado para o abastecimento no Sudeste.
Prefeituras
do Médio Paraíba e do Norte Fluminense já manifestam preocupação com o
agravamento da crise. Representantes da Comissão Ambiental Sul, uma entidade de
defesa do meio ambiente com sede em Volta Redonda, criticam a proposta de
transposição de parte do volume da Bacia do Paraíba do Sul para São Paulo:
— Vai
faltar água no Rio. Em nosso estado não temos nenhuma alternativa. São Paulo
tem várias. Achei estranho este acordo feito entre os governos paulista,
fluminense e mineiro. A população não foi consultada.
Fonte Globo.com
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