sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Mães criam páginas na web para denunciar mortes em hospital no Rio


Um momento que deveria ser de alegria se transformou em tristeza para mães que perderam seus filhos na maternidade do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, na Zona Norte do Rio. Pelo menos duas páginas foram criadas com depoimentos sobre o que consideram descaso dos profissionais da unidade de saúde.

Uma das criadoras, Evelin Abreu dos Santos, diz que a ideia da página "Mamaes que perderam bebes na maternidade Ronaldo Gazolla" é que "mais mães não passem por descasos semelhantes".

Segundo ela, ao chegar no hospital na manhã do dia 9 de abril deste ano, com contrações muito fortes, teve que esperar muito para ser atendida. "Esperei por uma hora, fui levada para tirarem minha pressão, fizeram isso e esperei mais três horas até ser levada para a sala de parto. Lá, disseram que o colo do meu útero estava fechado e eu não estava em trabalho de parto e, em seguida, colocaram Buscopan [remédio para cólicas e dores abdominais] na minha veia", contou Evelin, que foi ao hospital com o marido e a mãe.
Após ser indicada a voltar para casa, ela retornou ao hospital na noite do mesmo dia. "Continuaram a insistir que eu teria que fazer parto normal. E eu dizendo que já tinha feito duas cesarianas e que não havia passagem para um bebê com parto normal, e eles se recusaram a me internar", relata.

Após enfermeiras colocarem Evelin para receber soro, ela começou a sangrar muito por volta das 22h30. "Achei que finalmente poderia ver meu filho nascer, mas o sangramento era além do normal. Uma enfermeira me disse para tomar um banho, mas não se ofereceu para me ajudar. Após muita dor, me disseram que eu iria fazer a cesária, mas só às 8h30 do dia seguinte", relata ela, que conta ainda que foi encaminhada para a mesa de cesariana pingando sangue pelo corredor da unidade.

Evelin conta que, após o parto, o filho sobreviveu por 45 minutos, mas já muito debilitado. "Ele já havia engolido muito sangue, estava muito roxo. O pior foi não terem avisado meu marido e minha mãe", disse ela, emocionada. Ela diz que já recebeu mensagens de outras mães e que quer se reunir com elas para chamar a atenção da sociedade.

Jovem morta
Samanta Rodrigues, criadora de outra página na mesma rede social, a Mães do Hospital de Acari, diz que a sobrinha morreu em setembro após atendimento deficiente no Ronaldo Gazolla. O filho, Kaique, sobreviveu ao parto no dia 18 de setembro, mas sua parente, Juliana, que é menor de idade, teria ficado em uma sala de espera por horas antes do nascimento. "Houve sofrimento fetal por causa disso", disse Samanta.


A criança foi transferida para o Hospital da Criança, em Vila Valqueire, na Zona Norte. Juliana se queixou de dor e muito cansaço, mas a família achou que não fosse nada demais. Dois dias após o parto, ela teve convulsões e foi levada para a unidade. Após um dia inteiro recebendo soro, os médicos diagnosticaram um ovário e uma trompa necrosados. Ela sofreu várias paradas cardíacos e morreu no dia 29 de setembro.

"A causa da morte, segundo o hospital, foi um choque séptico. O corpo não foi enviado ao IML. Como ainda estava com muito sangramento tivemos por nossa conta que enviar o corpo a um laboratório particular para ser preparado para o enterro", contou Samanta.

Hospital diz que óbitos materno-infantis são investigados
A direção do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla informou que Evelyn deu entrada na unidade no dia 9 de abril, às 20h09, em início de trabalho de parto, mas ficou em observação e o quadro evoluiu para um descolamento prematuro de placenta.

Segundo eles, ela foi submetida a uma cesariana às 04h12, do dia 10, e o descolamento prematuro de placenta levou o recém-nascido a aspirar grande quantidade de sangue, tendo sido necessárias manobras de reanimação ainda na sala de parto, porém, sem evolução positiva, vindo o bebê a falecer às 05h00.

A direção do hospital afirma ainda que toda assistência médica necessária foi disponibilizada para a mãe e o bebê e que todos os óbitos materno-infantis são investigados por comissões, tanto na unidade onde o fato ocorreu quanto Secretaria Municipal de Saúde. Em nota, a coordenação da maternidade e a direção médica do hospital dizem estar à disposição da família e dos demais para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários.

Secretaria ainda apura casos
Procurada pelo G1, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio afirmou que está apurando o caso de Evelin, e que aguarda novidades dos outros casos.


Fonte Globo.com


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