Um projeto desenvolvido pela prefeitura do Rio pode ser o início de uma nova
forma de o governo se relacionar com o cidadão. O Desafio Ágora Rio se propõe a
ouvir a população, recolhendo propostas que poderão ser adotadas pela
prefeitura. Por meio de uma plataforma colaborativa na internet, qualquer um
pode sugerir ideias que deseja ver concretizadas. Elas são votadas e
debatidas, em um sistema de democracia direta virtual. A palavra Ágora vem do
grego, indicando os locais abertos onde ocorriam as discussões públicas.
A coordenadora de articulação do Ágora Rio, Marina Mota, explica que a
iniciativa será cada vez mais utilizada no futuro, quando a tecnologia ajudará
o cidadão a votar e escolher as prioridades. Ela salienta que é necessário um
período de adaptação para as pessoas aprenderem a usar as novas tecnologias,
como ocorreu com todos os equipamentos que hoje fazem parte da nossa vida. “No
início, foi difícil entender como usar o celular. Também foi difícil começar a
usar o e-mail, em vez de enviar cartas pelo correio. Da mesma forma,
foi difícil começar a usar o Facebook, o Twitter e as redes sociais. Mas
estamos, cada vez mais, nos apropriando dessas tecnologias. Desde as
manifestações do ano passado, estamos vendo a população dizer que quer ser
ouvida”, disse Marina.
Na primeira fase, a discussão é centralizada na geração de legados que os Jogos
Olímpicos poderão trazer para as comunidades, como a construção de escolas ou
de vilas olímpicas, por exemplo. O assunto foi debatido nessa segunda-feira
(20), com lideranças comunitárias do Complexo do Alemão, que apoiaram o
projeto, mas questionaram o real alcance da medida.
A artista plástica e ativista social Mariluce Mariá disse que não tem qualquer
oposição à plataforma, mas lembrou que as demandas da comunidade são outras,
não relacionadas aos legados das Olimpíadas. Ela citou o caso de várias casas
que ameaçam desabar ou ser atingidas por pedras, em localidades como Pedra do
Sapo, Mineiros, Matinha e Inferno Verde.
“A gente quer acreditar que eles estão começando algo que, um dia, valerá a
pena termos participado. Queremos colocar no sistema a questão das pessoas que
vivem em áreas de risco e também a proposta de ações de lazer, que hoje são
embargadas pelo Poder Público da área. Até uma roda de samba ou uma roda de
capoeira não tem autorização, por questão de segurança”, disse Mariá.
O líder comunitário Luis Carlos Sales do Nascimento, coordenador do Instituto
de Ensino e Comunicação Comunitária, também demonstrou apoio à plataforma
virtual, mas questionou a relação da prefeitura com a comunidade quanto ao
legado das Olimpíadas.
“A minha visão é que não fica legado para a comunidade. Pode ficar para a
cidade. Mas, nós vamos participar do processo, porque a esperança é a última
que morre. Infelizmente, as decepções são inúmeras, porque as promessas são
muitas, mas a conclusão delas é bem pouca. A plataforma é boa, mas entendo como
uma utopia, não algo concreto. A prefeitura já conhece as nossas demandas”, observou
Nascimento.
A plataforma na internet (www.desafioagorario.com.br)
já recebeu 300 sugestões desde o início de setembro, quando foi lançada, e
ainda poderá recolher novas ideias até o próximo dia 27, quando termina a fase
de proposições e começa a de discussão e seleção das melhores propostas. Elas
serão levadas em novembro para o prefeito do Rio analisar e, eventualmente,
implementar.
Fonte Agência Brasil
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