Desde junho, os preços do petróleo do tipo Brent (referência
internacional) apresentam uma tendência acentuada de queda, oscilando
negativamente 27%, entre o pico de US$ 115,06 o barril, em 19 de junho, aos US$
83,78, em 15 de outubro, menor patamar do período. Na terça-feira, a cotação do
Brent deu um alívio e avançou 0,57% em relação à véspera, para US$ 85,89, mas
permanece bem abaixo de sua posição em junho. Para analistas e operadores, há
duas forças puxando os preços para baixo, uma econômica e a outra, geopolítica.
Em ambas as explicações há igualmente uma boa dose de especulação.
No campo
das finanças, há um crescente desânimo abatendo investidores e outros agentes
econômicos, diante da percepção que a recuperação econômica das principais
potências começa a perder fôlego, num momento em que as autoridades monetárias praticamente esgotaram seus
arsenais de estímulos. Os principais bancos centrais, como o Federal
Reserve (Fed, o BC americano), adotaram medidas não convencionais, como corte
de juros a zero e a compra de ativos mensais — o chamado “quantitative easing”
— para estimular a recuperação. E, apesar de tudo, a deflação continua uma
ameaça concreta no horizonte.
Uma
economia decadente significa queda de demanda por petróleo, à proporção que a
atividade, em geral, diminui. E, apesar disso, o mercado não está vendo membros
importantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) reduzindo
sua produção para se adequar à demanda menor. A razão disso, dizem os
analistas, seria uma disputa por participação de mercado, o que estimularia
estas nações a continuarem produzindo, apesar de os países importadores estarem
com suas reservas cheias.
A esta
percepção acrescentam-se os conflitos geopolíticos, como a refrega entre Rússia
e Ucrânia, que levou os Estados Unidos e a União Europeia (UE) a adotarem
sanções contra o governo de Putin, cujos efeitos negativos estão respingando na
zona do euro. Os protestos por democracia nas ruas de Hong Kong colocam outro
ator importante no front dos conflitos: a China. Motor dos emergentes na
recuperação da economia global, com uma taxa de expansão anual média acima de
8%, o país já sinalizou que terá um crescimento mais modesto nos próximos anos
(em média 5,5%) e menos ainda a longo prazo (3,9%). A perspectiva de sanções do
Ocidente por causa de Hong Kong só piora o humor dos mercados.
Por fim,
a chegada do vírus do Ebola a Dallas, por mais que seja improvável uma
disseminação da doença no país, contribui para o desamparo geral.
ANALISTAS
DIVIDIDOS
Os
analistas estão divididos tanto sobre as razões da forte venda de papéis da commodity
nos últimos quatro meses quanto se esta continuará seu caminho ladeira abaixo.
Economistas do Goldman Sachs e do Morgan Stanley afirmaram que o ciclo de venda
está exagerado e, portanto, perto do fim. Porém, outros especialistas dizem que
novas quedas provavelmente vão ocorrer no futuro.
Nas
últimas sessões, os preços se recuperaram um pouco, puxados por notícias como a
interrupção da produção em um campo petrolífero conjunto de Arábia Saudita e
Kuwait devido a preocupações ambientais. Além disso, um relatório saudita
mostrou um declínio no maior exportador de petróleo do mundo. Por outro lado, o
Irã recuou de uma reunião de emergência da Opep para discutir cortes de produção
e defesa de preço, o que significa que qualquer alteração sobre o volume de
produção só ocorrerá na reunião protocolar, marcada para 27 de novembro.
“A
questão se resume a se já chegamos ao fundo; e eu não creio que tenhamos
chegado lá”, disse ao jornal “Wall Street Journal” o analista Gene McGillian,
da Tradition Energy. “É como se o mercado estivesse tentando se estabilizar,
mas temores de uma atividade econômica em declínio e estoques elevados vão
continuar puxando os preços para baixo.”
SHALE GAS
A queda
dos preços do petróleo já está levando analistas a reavaliarem o valor do boom
do gás não convencional americano, que promete uma revolução energética, que
colocará os Estados Unidos como líder mundial no setor energético. E os mesmo
vale para o pré-sal brasileiro. Segundo analistas, com um preço abaixo de US$
80, um terço da produção americana de gás se tornaria economicamente inviável.
Pela primeira vez, desde 2010, as petrolíferas acrescentariam menos barris à
produção doméstica em relação aos anos anteriores, segundo as firmas Macquarie
Group, ITG Investment Research e PKVerleger, ouvidas pela Bloomberg.
A
perfuração horizontal de gás não convencional representa 55% da produção
americana e a Agência Internacional de Energia previu que os Estados Unidos vão
ultrapassar Rússia e Arábia Saudita para se tornar o maior produtor do mundo em
2015. Embora haja sinais de recuperação e estabilização, uma crescimento mais
lento da produção americana abalaria as percepções em relação ao mercado
global, avaliou Vikas Dwivedi, economista especializado em petróleo e gás da
Macquire.
TEORIAS
DA CONSPIRAÇÃO
A queda
tão vertiginosa de preços do petróleo — 27% desde junho — gerou algumas teorias
da conspiração, especialmente num mercado fortemente orientado por decisões
políticas. A mais popular delas é a de que americanos e sauditas estão em
conluio para abalar financeiramente as economias de seus inimigos — Rússia e
Irã. Segundo essa lógica, em ambos os casos, uma queda de receita proveniente
das exportações de petróleo poderia levar o presidente Vladimir Putin e o
supremo líder iraniano, aiatolá Ali Khamenei, à mesa de negociações, para
tratar de um acordo sobre a Ucrânia e as ambições nucleares do Irã.
Em artigo
para o “Financial Times”, Nick Butler, especialista em energia, afirmou não
descartar tal teoria, embora a considere improvável. O importante, escreveu
ele, é “observa o que acontecerá a seguir. O risco para o setor petrolífero e
para muitos países dependentes das receitas do petróleo é que os jogos da
Arábia Saudita levou ao descontrole do mercado. Preços podem cair bem mais, com
consequências imprevisíveis e negativas, a começar com maior instabilidade
regional e um corte de investimento que só pode alimentar o próximo ciclo.”
O desafio
agora, disse ele, é saber se os sauditas têm condições de inverter a queda de
preços. O risco é que a tendência que se vê desde junho leve outros países a
elevar suas produções a curto prazo para aumentar uma tão necessária receita.
“Cada campo que pode produzir mais é pressionado a fazê-lo. Paradas de
manutenção programadas são adiadas e assim por diante”, disse Butler. E esse é
o ponto central: até agora, a queda vertiginosa dos últimos meses não provocou
um corte na produção.
Fonte
Globo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário