Reeleita em uma disputa
acirrada contra o tucano Aécio Neves, a presidente Dilma Rousseff deverá
ter dificuldade para lidar com deputados e senadores nos próximos quatro anos,
segundo avaliação dos parlamentares da oposição ouvidos pelo G1.
Os congressistas que integram a base aliada, por outro lado, pedem
"diálogo" e disseram que será preciso "união".
Dilma venceu as eleições deste domingo com 51,64% dos votos válidos, contra
48,46% obtidos por Aécio Neves. A apertada diferença entre os dois, aliada à
pulverização de partidos na próxima legislatura, mostram, segundo o senador e
líder do DEM, Agripino Maia (RN), que Dilma deverá ter dificuldades em lidar
com o Parlamento.
"O Brasil agora foi dividido, metade do país se aliou ao nosso projeto,
pediu mudança. Por isso, a legitimidade do mandato dela é relativa",
destacou Agripino, que coordenou a campanha de Aécio Neves.
PT e PMDB, principais aliados do Palácio do Planalto, continuam com as
maiores bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, mas perderam
cadeiras nas duas Casas em relação ao total de eleitos em 2010 e também em
relação à bancada atual.
O partido de Dilma tinha 88 deputados federais no início dessa legislatura e
terá 70 no próximo ano. O PMDB também caiu de 79 para 66 deputados. No Senado,
PMDB e PT perderam duas cadeiras cada um, ficando com 18 e 12 senadores
respectivamente. O número de partidos com representação na Câmara cresceu de 22
para 28. (Veja aqui
quais partidos perderam e quais ganharam representatividade no novo Congresso).
O vice-líder do governo no Senado, Jorge Viana (PT-AC), reconhece que a
pulverização dos partidos será um "complicador" para Dilma Rousseff,
que terá dificuldade em aprovar projetos defendidos durante sua campanha, como
a reforma política. O petista, porém, disse que a solução estará no
"diálogo" com o Planalto.
"Será um desafio tremendo, mas é um novo governo, uma nova esperança e
eu espero que haja mais diálogo nosso com o Palácio para se ter uma agenda que
atenda às expectativas do país. Isso será bom para o próprio Congresso, que tem
perdido o prestígio", avaliou o senador acreano.
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ) – cotado para substituir
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) na presidência da Câmara – disse que, como
qualquer presente eleito, a petista tem "condições e
representatividade" para emplacar propostas no Congresso.
Para o deputado – que no ano passado liderou o chamado "blocão"
(grupo da base aliada insatisfeito com o Palácio do Planalto) – a boa relação
de Dilma com os parlamentares vai depender da sua disposição em
"dialogar". Ele lembrou que a oposição no Senado estará "mais
qualificada", devido à entrada de José Serra (PSDB-SP), Tasso Jereissati
(PSDB-CE) e Antonio Anastasia (PSDB-MG).
"É claro que a oposição dará mais trabalho, mas dependerá da disposição
de diálogo dela para superar divergências", afirmou Cunha.
Para o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que foi líder do
governo até junho deste ano, se os partidos que apoiaram Aécio no segundo turno
se mantiverem unidos, "será uma oposição bem maior do que havia durante o
primeiro mandato". Porém, o "simples fato" de ter aumentado o
número de partidos na Câmara não implica "automaticamente" em maior
dificuldade no diálogo com o Executivo. "Pequenas bancadas tendem a formas
blocos", lembrou.
Para o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), a "expressiva
votação" alcançada pela oposição no Congresso e também nos estados confere
mais "responsabilidade" e "força política". "Estaremos
[oposicionistas] mais encorpados, mais reforçados. Vamos cobrar as grandes
reformas. Vamos continuar com 39 ministérios para abrigar o PT? Vamos continuar
pagando tanto imposto para bancar um governo perdulário?", provocou o
parananese.
O líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), disse que Dilma
"mostrou no primeiro mandato que não foi uma líder capaz de fazer as
transformações esperadas". "Ela comprovou que não tem liderança para
fazer transformações, por isso vai ter dificuldades enormes. A Dilma não é
conciliadora, não é agregadora", opinou o tucano.
Imbassahy destacou ainda o quadro desfavorável da economia no próximo ano.
"Ela fez uma das piores gestões de toda a história da República do ponto
de vista da economia e vai ter grandes dificuldades para colocar o país no
trilho. Ela descarrilhou o país", afirmou.
Chinaglia disse que, para aprovar projetos complexos como a reforma
política, Dilma sabe que terá de debater com o Congresso e com a sociedade.
"Ela sabe que não é o papel dela sozinha", afirmou. "Além disso,
ela pode mobilizar sua base, mas a palavra final será sempre do
Congresso".
Fonte: Globo.com
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