Cunha explica que a SuperVia, no entanto, não
consegue arcar sozinha com o projeto Segurança na Via. Para viabilizá-lo, ele
esteve em janeiro em Brasília com a presidente Dilma Rousseff, para negociar
sua implantação. Segundo Cunha, a SuperVia tem um gasto anual de R$ 30 milhões
em segurança interna e perde R$ 48 milhões por causa da ação do tráfico, que
abre buracos nos muros, permitindo que usuários embarquem nos trens sem pagar. A
concessionária tem hoje 800 agentes de segurança em toda a rede.
— A presidente Dilma entendeu o problema e
concordou com o nosso projeto. Demos, então, entrada no processo para cumprir
os trâmites burocráticos nos ministérios do Planejamento e das Cidades, para
enquadrar o projeto nas exigências do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) e obter os recursos para sua execução — diz.
OBRAS ESTÃO ORÇADAS EM R$ 600 MILHÕES
A secretária estadual de Transporte, Tatiana Vaz
Carius, disse, neste domingo, que o problema da falta de segurança no sistema
ferroviário vem sendo estudado há seis meses por técnicos do governo e da
SuperVia. Segundo ela, o projeto conceitual que prevê intervenções ao longo da
linha férrea foi concluído na sexta-feira e será apresentado ao governo federal
ainda esta semana. As obras estão orçadas em R$ 600 milhões.
— Já havíamos estado em Brasília, e o governador
conversou com os dois ministros (das Cidades e do Planejamento) para explicar a
importância do projeto — disse a secretária.
Até a implantação do projeto, que, segundo o
presidente da SuperVia, impediria a ação do tráfico e a evasão de renda, a
concessionária cobra mais empenho das autoridades, para garantir a segurança
dos passageiros. Na noite de sábado, por exemplo, um homem ficou ferido e outro
morreu atropelado por um trem que seguia para Belford Roxo, próximo à estação
do Jacarezinho. Os dois tinham acessado irregularmente a via férrea por um dos
150 buracos feitos pelo crime organizado.
— Trata-se de um problema de segurança pública. Não
temos poder de polícia. Nossos agentes, inclusive, têm passado por situações
constrangedoras — revela Cunha.
Segundo a SuperVia, mais de dez mil pessoas
transitam pelos trilhos diariamente, seja para acessar indevidamente os trens
ou para vender, comprar ou consumir drogas. Por isso, os trens são obrigados a
circular a 30km/h, quando poderiam trafegar a 80km/h.
A primeira parte do projeto é emergencial e visa a
atacar, em dois anos, os pontos mais críticos (tráfico e evasão de renda), com
a construção de cinco viadutos e pelo menos 20 passarelas. A segunda fase
envolve desapropriações e reassentamentos das famílias que vivem na faixa de
domínio da linha férrea. A estimativa é que a implementação total do projeto leve
oito anos.
Doutor em Engenharia de Transportes e ex-diretor da
Metrô Rio, Fernando Mac Dowell diz que a solução passa por uma ação conjunta
entre a SuperVia e o poder público.
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— É preciso que exista integração entre SuperVia,
estado, município e governo federal, para que haja também reurbanização no
entorno das estações, além de policiamento. O ambiente degradado favorece a
criminalidade. Apenas muros não vão adiantar, porque vão continuar dando um
jeito de quebrá-los — avalia.
Luiz Carneiro, diretor do Clube de Engenharia do
Rio, acredita que o problema não será solucionado apenas com as obras:
— Não vejo relação entre a criação de viadutos e
passarelas e a escassez de segurança. Se não tiver presença policial, segurança
e fiscalização para reprimir os crimes e o consumo de drogas, os usuários e
traficantes continuarão agindo ali. Precisamos pensar sobre essa questão,
porque envolve desapropriações e reassentamentos.
PREJUÍZOS SÃO GRANDES
Cunha admitiu que a atuação do tráfico no sistema é
antigo. Disse que quando assumiu a empresa, há quatro anos, se dedicou a
resolver os problemas internos. Agora, outros problemas ficaram mais evidentes,
segundo ele.
— Chegamos a números estarrecedores: mais de 40 mil
evasões de passageiros e R$ 128 mil que deixam de ser arrecadados diariamente,
um prejuízo anual de R$ 46 milhões. Registramos ainda muitos acidentes,
atropelamentos e abalroamentos — diz.
Um dos exemplos da grave situação é a estação
Tancredo Neves, onde os funcionários da SuperVia foram expulsos pelo tráfico.
Ali, bandidos armados ocupam a plataforma e oferecem drogas livremente. Ninguém
paga passagem.
— A orientação que temos da Secretaria de Segurança
é para não nos envolvermos neste problema. Isso cabe à secretaria — comenta.
De acordo com o contrato de concessão, é
responsabilidade do governo prestar segurança pública na linha. Segundo Cunha,
as ações pontuais não surtem mais efeitos.
— Antigamente, existia um batalhão de polícia
ferroviária com 300 policiais. Isso acabou em 2009. Hoje, temos um núcleo
reduzido de cerca de 20 policiais ferroviários.
A Secretaria de Segurança não quis se manifestar
sobre o assunto, e a Polícia Militar informou que procura fazer operações
sistemáticas, com prisões e apreensões de drogas e armas em diversos pontos. O
Grupamento Ferroviário informou que tem dado apoio à segurança da
concessionária.
A SuperVia enfrenta ainda um outro problema: o
tráfico utiliza cabos de cobre roubados como uma nova moeda, que os dependentes
químicos trocam por drogas. Nesse mercado negro, um metro de cobre seria o
equivalente a uma pedra de crack.
A POLÍCIA É APENAS UMA DAS FERRAMENTAS
Na opinião da professora Elizabeth Sussekind, a
SuperVia tem que garantir a ordem dentro de sua área. No entanto, diz, o Estado
também tem que atuar, em casos como esse, dentro da propriedade privada.
— Quando se tira, por exemplo, o crack da Avenida
Brasil ele aparece mais forte nos trens. Não podemos é achar que a solução deve
vir só da polícia, que deve ser uma das ferramentas do Estado, mas não a única
a ter que responder por um problema bem maior. Precisamos prevenir a
criminalidade investindo mais na educação. Esses viciados poderiam estar nas
escolas, sendo tratados socialmente e não apenas amparados pelo tráfico, assim
como foram seus pais. Muitos estão na terceira geração do crime e das drogas.
Fonte: Globo.com
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